JOHN, UM NEGRO DA TERRA


José Ribamar Bessa Freire
31/03/2013 - Diário do Amazonas


Ele nasceu, em 1956, nos Estados Unidos. Era americano. Portanto tinha, inapelavelmente, que se chamar William ou John. Ficou John. Mas por ser filho de português, seu destino era ser registrado como Manuel ou Joaquim. Acabou herdando o Manuel do pai. E foi com esse nome composto - John Manuel - que veio de mala, cuia e Machado para o Brasil, onde criou raízes, filhos, livros e deixou marcas.
Aqui deu aulas, palestras e conferências, organizou eventos, iniciou estudantes na pesquisa, formou mestres e doutores, fez discípulos, vasculhou arquivos, pesquisou, escreveu, publicou, amou e foi amado, apaixonou-se pela história indígena e abrasileirou-se tanto que se transfigurou em negro da terra, termo consagrado em um de seus livros sobre índios e bandeirantes.
Foi ironicamente na Rodovia Bandeirantes, em Campinas, na terça-feira, que um táxi desgovernado chocou o carro dirigido por John, eliminando um dos expoentes da história indígena. Ele morreu no local, aos 56 anos, no auge de sua vida intelectual, vítima da guerra absurda do trânsito, que no Brasil mata anualmente mais do que qualquer guerra civil. Na última quinta-feira, 28 de março, depois de velado no salão da biblioteca, na Unicamp, foi levado para o Crematório na Vila Alpina, em São Paulo.
Índios e bandeirantes
O historiador John Manuel Monteiro era paulista, mas paulista de Saint Paul, Minnesota, onde nasceu. Lá, muitos moradores descendem de alemães e escandinavos, que migraram para os Estados Unidos no final do século XIX, encurralando a população nativa em reservas indígenas, que hoje sediam cassinos. Quando os portugueses e hispânicos chegaram, os índios já eram minoria discreta, mas capazes ainda de despertar o interesse de um pesquisador sensível e generoso como John, um paulistano de coração.
Desde a graduação em história, no Colorado College (1974-78), ele vinha buscando entender o processo de colonização portuguesa nos trópicos, inicialmente em Goa, na Índia, e depois no Brasil. No mestrado (1979-1980), focou seu interesse sobre o Brasil Império, no século XIX, e finalmente no Doutorado (1980-1985) na mesma Universidade de Chicago, debruçou-se sobre a escravidão indígena, os bandeirantes e os guarani de São Paulo.
Quando o conheci, em 1992, apresentado por Manuela Carneiro da Cunha, ele trabalhava com ela num grande projeto interdisciplinar, de âmbito nacional, que procurava localizar, mapear e avaliar a documentação manuscrita sobre índios existente nos arquivos de todo o Brasil. Fui convocado para coordenar a equipe do Rio de Janeiro. Com John, entramos em cada um dos 25 grandes arquivos sediados no Rio. No final, ele organizou a publicação do Guia de Fontes para a História Indígena e do Indigenismo em Arquivos Brasileiros.
O objetivo do projeto era criar uma ferramenta para combater a cumplicidade da historiografia brasileira que "erradicou os índios da narrativa histórica" ou tentou "torná-los invisíveis". O Guia foi elaborado por equipes que reuniu mais de cem pesquisadores em todas as capitais do país, coordenados por John Monteiro. Localizou muitos documentos desconhecidos e até então inexplorados, criando as condições para "repensar, de forma crítica, tanto o passado quanto o futuro dos povos indígenas neste país".
John Monteiro trazia considerável experiência em pesquisa documental nos arquivos das Américas, da Europa e da Índia. Publicou, em 1994, o livro seminal Negros da Terra: Índios e Bandeirantes nas Origens de São Paulo. Lá, apoiado em farta documentação, redimensiona o papel dos índios na história de São Paulo e desconstrói a baboseira de que o bandeirante paulista contribuiu para alargar e povoar o território brasileiro. Recoloca na história do Brasil, como sujeito, o negro da terra ou gentio da terra, expressão usada para designar o índio escravizado.
ACESSE O TEXTO NA ÍNTEGRA: 

O CASO DA BIBLIOTECA NACIONAL


A sala de leitura da Biblioteca Nacional, com um aviso para os usuários sobre limitações de estrutura Guito Moreto / Agência O Globo


Os bastidores da crise estrutural que assola a maior instituição do gênero na América Latina — que culminou na queda de seu presidente — e os principais problemas que o novo gestor terá que resolver

RIO - Na última terça-feira, a notícia da demissão do presidente da Fundação Biblioteca Nacional, Galeno Amorim, pela ministra da Cultura, Marta Suplicy, se não chegou a surpreender (Marta vinha realizando trocas nos órgãos do MinC desde setembro) serviu para chamar atenção para um problema que vem se arrastando há décadas na maior biblioteca da América Latina: a completa precariedade da sua estrutura. Mais importante do que investigar se a degradação do acervo que contempla toda a memória nacional agravou-se na gestão do escritor Galeno Amorim (2011-2013), do sociólogo Muniz Sodré (2006-2011) ou do bibliófilo Pedro Corrêa do Lago (2000-2005), só para citar os últimos presidentes da BN, é saber como o próximo gestor, o cientista político Renato Lessa, vai encarar os percalços que o esperam. Nas duas últimas semanas, a Revista O GLOBO acompanhou os bastidores da rotina da biblioteca. E pode garantir: não são poucos os problemas.
— A Biblioteca Nacional parou no tempo. Do jeito que está, vai perder completamente sua função — lamenta o economista, engenheiro e advogado José Roberto Fiorêncio, que se aposentou há um ano do emprego no BNDES e desde então frequenta a biblioteca diariamente, das 9h às 19h, para pesquisas de interesse pessoal, que vão dos recursos hídricos da Amazônia às teorias do filósofo alemão Karl Jaspers. — Em outros países do mundo, a dinâmica dos moradores com suas bibliotecas é muito mais rica. Esta aqui virou um museu, onde o turista, no máximo, conhece numa visita guiada. E nunca mais volta. Os próprios moradores da cidade a ignoram. Ela não faz parte da vida do brasileiro. Não há link com as escolas, não são vistos estudantes por aqui. É irônico que a BN chegue a esse ponto justamente no ano em que representará o Brasil na maior e mais moderna feira de livros do mundo (o Brasil é o país homenageado deste ano na Feira de Frankfurt, na Alemanha).
O público que vive a Biblioteca Nacional é variado. Há pesquisadores de ocasião, como José Roberto, cientistas de ponta, graduandos, turistas, leitores de fim de tarde (muitos), vestibulandos, malucos-beleza, estudantes do ensino básico e do fundamental (poucos), intelectuais estrangeiros, curiosos e até moradores de rua. Todos atravessam dificuldades para usufruir o acervo da biblioteca, a oitava maior do mundo. Os problemas dão as caras logo na entrada do prédio histórico, datado de 1910. Desde outubro do ano passado, a suntuosa fachada da instituição, localizada na Cinelândia, no Centro do Rio, está escondida por estruturas de alumínio. A medida emergencial é para evitar que rebocos do edifício malconservado acertem a cabeça de um passante, como quase aconteceu em outubro, quando um naco da fachada, do tamanho de uma bisnaga, despencou do alto.
Os problemas seguem biblioteca adentro. Chegando à recepção, os “usuários”, como são chamados no jargão bibliotecário, apresentam um documento de identificação, deixam os pertences num guarda-volumes e passam por catracas de segurança, que deveriam controlar a entrada e saída do prédio. Quebradas há mais de um ano, no entanto, as peças têm efeito meramente cênico. Não registram nada.
De lá, o frequentador segue até o setor que lhe convém: periódicos, obras gerais, iconografia, cartografia, manuscritos ou obras raras. Com o ar-condicionado inoperante desde maio de 2012, quando houve o rompimento de uma tubulação do aparelho central (incidente que obrigou bibliotecários a suspender as barras das calças e empunhar rodos para salvar o acervo de um alagamento), o calor é a sensação primeira, e premente, nos salões da biblioteca.

Morre o historiador John Monteiro


Morreu em um acidente de carro, na noite desta terça (26), o antropólogo e historiador John Monteiro, professor do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Unicamp.  Monteiro foi atingido por um veículo na contramão, na Rodovia dos Bandeirantes. O velório será nesta quinta-feira (28), no auditório do IFCH, na cidade universitária.  

Especialista em história indígena e autor de Negros da Terra: Índios e Bandeirantes nas Origens de São Paulo (1994), John Monteiro fez graduação em História pela Universidade do Colorado; foi mestre e doutor pela Universidade do Chicago. Era professor do Departamento de Antropologia da Unicamp desde 1994. Estava desenvolvendo a pesquisa Mamelucos e Mamelucas: Aliança, Mestiçagem e Escravidão em Perspectiva Transcontinental, 1550-1650 que, em suas palavras, estudava os chamados “índios coloniais”. Ou seja, tratava “de populações indígenas que fazem parte da sociedade ou da história colonial. Índios que participam como soldados nas milícias e nos campos militares, índios aldealdos que fazem parte das missões, índios cristãos convertidos para o catolicismo ou para o calvinismo, no caso do Brasil holandês”, explicou ementrevista durante simpósio da Anpuh, em 2006.
John Monteiro era colaborador da Revista de História. Em 2008, assinou o artigo “Sangue nativo”, o qual falava sobre o jogo de interesses que gerou séculos de escravização dos índios no Brasil. Três anos depois, contribuiu com a série de documentários “Histórias do Brasil”, uma parceria entre a revista e a Conspiração Filmes, exibida pela TV Brasil [assistaaqui ao episódio ‘Entradas e bandeiras’, no qual Monteiro é entrevistado]. Além disso, o pesquisador assinou a resenha principal da edição de abril da RHBN, texto ainda inédito, que chega às bancas na semana que vem. Em homenagem a ele, liberamos o texto, na íntegra, aqui.
FONTE: 


LANÇAMENTO: DE ESCRAVO A COZINHEIRO



De escravo a cozinheiro é uma das obras integrantes do Lançamento Coletivo EDUFBA
Segunda edição da obra é lançada na Faculdade de Comunicação
De escravo a cozinheiro, autoria de Valdemir Zamparoni é uma das obras que integra o Lançamento Coletivo EDUFBA do mês de Abril. A ser realizado no auditório da Faculdade de Comunicação (FACOM – UFBA), no dia 02 de abril, das 17h30 às 20h30, o evento dá continuidade às comemorações dos 20 anos da Editora. Além da tradicional sessão de autógrafos, o público também poderá interagir com autores e organizadores durante uma mesa-redonda.
Fruto de anos de pesquisa de campo realizada pelo autor em Portugal e Moçambique, o tema principal da obra é o desmonte da organização social e do trabalho na porção sul de Moçambique com a chegada dos portugueses. Zamparoni situa o país no período de 1890 a 1940 e descreve os mecanismos de exploração usados durante a colonização. Utilizando-se de uma variada gama de documentos históricos, que vão desde publicações acadêmicas e documentos oficiais portugueses a jornais e periódicos moçambicanos, o autor apresenta não só um extenso e aprofundado trabalho de pesquisa, mas um relato comovido e uma prosa envolvente.

Sobre o autor

Valdemir Zamparoni é graduado em História pela Universidade de São Paulo (USP/1979) e pós-doutorado pela Universidade de Lisboa (UL/2009). É professor do Programa de Pós-Graduação em História (PPGH) da UFBA e do Programa Multidisciplinar de Pós-Graduação em Estudos Étnicos e Africanos no Centro de Estudos Afro-Orientais (CEAO) na mesma universidade. Atualmente, ensina e orienta em nível de Mestrado e Doutorado, no Brasil e em Angola

Informações adicionais sobre este livro
ISBN: 978-85-232-1027-4
Ano: 2012
Área: Manuscritos, obras raras e outros materiais raros impressos
Número de páginas: 342 p.
Formato: 15,5 x 22,5 cm
Preço de lançamento: R$ 40,00

MEMÓRIA DIGITAL: OS ARQUIVOS DO DEOPS DE SÃO PAULO NA INTERNET


Núcleo de Comunicação
Arquivo Público do Estado de São Paulo
(11) 2089-8124 | 2089-8182 comunicacao@arquivoestado.sp.gov.br

Iº CONGRESSO INTERNACIONAL DE FAIANÇA PORTUGUESA



A Faiança Portuguesa é decerto uma das mais reconhecidas e significativas produções cerâmicas, não apenas em Portugal, mas seguramente no mundo.
Nos últimos anos novidades acerca da recolha de largas quantidades de Faiança Portuguesa em contextos arqueológicos de diversos países têm vindo a ser uma constante, não apenas naqueles que conheceram a presença portuguesa, tais como Brasil, Cabo Verde ou Índia, mas igualmente nos parceiros comerciais como Estados Unidos, Canadá, Países Baixos ou Inglaterra.
Importa avaliar o impacto económico, social e cultural que esta produção, consumo interno e exportação, em larga escala, protagonizou e compreender o papel que desempenhou em quotidianos de diferentes continentes e latitudes.
Este congresso pretende reunir arqueólogos, historiadores e historiadores de arte de várias nacionalidades que possam fornecer contributos para o estudo da Faiança Portuguesa, desde o momento da produção, ao consumo nacional e internacional, passando pelas suas características estéticas e simbólicas.

Presidente da Casa Rui Barbosa diz que vai transformá-la em produto



RIO - Duas semanas à frente da Fundação Casa de Rui Barbosa, instituição tradicional situada no bairro de Botafogo, no Rio, foram suficientes para que o historiador capixaba Manolo Florentino, de 54 anos, radiografasse o espaço e decidisse quais serão seus primeiros passos. Sentado no gabinete que até o início do ano era ocupado pelo cientista político Wanderley Guilherme dos Santos, Florentino anuncia:
— Vou transformar a Casa de Rui Barbosa num produto, numa marca forte. Além disso, vou dar aos servidores a oportunidade de crescer. Vou trazer a Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior) para cá e montar mestrados profissionais. Eles serão os professores.
Para dar fôlego à transformação da Casa de Rui em “produto”, Florentino convocou para assumir a diretoria executiva da entidade o engenheiro carioca Paulo Werneck, especialista em administração pública. Juntos, acertaram que “até meados do ano” vão contratar (por licitação) uma empresa de comunicação e marketing para “trabalhar a imagem da casa e capilarizar seu relacionamento com a sociedade”.
— O primeiro nó a ser desatado aqui é dar visibilidade ao que é feito — diz Florentino. — Temos que criar mecanismos para que tudo que é produzido chegue à sociedade. Só assim alcançaremos a inclusão de que a ministra Marta Suplicy (Cultura) tanto falou ao me chamar para assumir esse cargo. Uma empresa de comunicação vai ajudar muito nisso.
Na opinião de Florentino, a Casa de Rui Barbosa “anda muito ensimesmada”e “produzindo para consumo próprio”.
— E não pode mais ser assim — afirma, taxativo.
Nos últimos dias, Werneck começou a redigir os termos da licitação que levará a contratação dos futuros marqueteiros da Casa de Rui Barbosa.
— Fiz uma lista confidencial com instituições análogas à Casa de Rui que são conhecidas por vender bem seus produtos culturais — conta o novo diretor executivo. — É nelas que vamos nos espelhar.
No que diz respeito à criação dos mestrados profissionais, o capixaba diz que essa é a forma mais adequada para conectar os pesquisadores com a sociedade e de passar adiante o conhecimento.
— Ontem (segunda-feira) anunciei a criação do mestrado profissional aqui dentro. Vamos ver como repercute. Mas a falta da docência institucionalizada significa a impossibilidade de montar redes profissionais — defende Florentino. — Transformar os servidores em professores é fazer com que eles cresçam.
Segundo Florentino e Werneck, ainda é cedo para listar os cursos, mas a ideia é que eles aconteçam tanto no centro de memória, com temas como restauração, como no de pesquisa, com aulas de filologia ou história.
De acordo com a dupla, os mestrados profissionais deverão ser gratuitos e,abertos ao grande público, começando em 2014. Uma vez implantados, eles darão passagem ao estabelecimento de mestrados strictu senso e doutorados.
— Quanto ao local das aulas, que seria um problema, já que sofremos de falta de espaço, digo que elas poderão ser ministradas em salas alugadas ou emprestadas por universidades através de convênios — se antecipa Florentino. — Já conversamos com o pessoal da UniRio, da UFRJ e da FioCruz.
‘Fui muito bem recebido’
Ainda no pacote de novidades, o presidente da Casa de Rui anuncia para agosto o primeiro grande evento de sua gestão. Por três dias, a instituição será sede de um congresso de história comparada entre Brasil e Argentina com mais de dez especialistas.
— Vai ser um evento grande, para mostrar que a Casa de Rui vai mesmo fazer barulho. Será uma espécie de batida de tambor para anunciar o tipo de evento que vamos abrigar.
Ciente de que seus antecessores — Wanderley Guilherme dos Santos e Emir Sader — enfrentaram problemas com os servidores, em sua primeira entrevista, Florentino fez questão de destacar que “foi muito bem recebido” e que encontrou “um alto grau de profissionalismo e dedicação”.
— Apesar da falta de pessoal, há uma dedicação que extrapola e emociona qualquer gestor. Daqui saem tesouros.
E, para ilustrar o que diz, mostrou o CD “Vocabulário histórico-cronológico do português medieval”, compêndio que demorou 15 anos para ficar pronto e que será levado a Portugal pela ministra Marta.
— São pérolas como esta que têm que estar mais acessíveis à sociedade.

Renato Lessa assume comando da Biblioteca Nacional



O cientista político e ensaísta Renato Lessa será o novo presidente da Fundação Biblioteca Nacional (FBN), substituindo Galeno Amorim, demitido pela ministra Marta Suplicy. A notícia foi antecipada nesta quarta-feira pela coluna Direto da Fonte, de Sonia Racy, do jornal "O Estado de S.Paulo".

A crise que derrubou Galeno Amorim começou com a queda da ex-ministra Ana de Hollanda, de quem era próximo, e teve um lance decisivo há alguns dias: duas coordenadoras da área de educação da FBN, Elisa Machado e Cleide Soares, deixaram a instituição disparando críticas públicas à gestão do presidente. Agora, do período de Ana de Hollanda, sobram poucos colaboradores ligados à ex-ministra - o mais proeminente é o presidente da Funarte, Antonio Grassi, além de Glauber Piva.

Amorim foi responsável por uma grande concentração das atividades da política nacional do livro na fundação Biblioteca Nacional. O processo teve início já no começo de sua gestão. O Plano Nacional do Livro e da Leitura foi desmontado, e o seu coordenador, José Castilho Marques Neto, se demitiu. Em abril, a FBN passou a concentrar atividades como a instalação de bibliotecas, feiras internacionais do livro, bolsas de tradução, ida de autores ao Exterior, compras de livros e incentivo à produção literária. É atribuído a Amorim também o esvaziamento do projeto do Fundo de Leitura, exigência de contrapartida pela desoneração de imposto dos livros feita pelo governo em 2003.

Em 2012, um documento do Colegiado Setorial do Livro, Leitura e Literatura, formado por representantes da sociedade civil, foi enviado à presidente Dilma Rousseff reclamando da "intervenção antidemocrática" de Amorim, e acusando um retrocesso no setor.

Também se reclamava, no governo, de uma certa inoperância da gestão de Amorim. Um dos raros projetos de cultura que a presidente Dilma foi a público anunciar, o Programa do Livro Popular (PLP), divulgado em setembro de 2011 e entregue a Galeno para sua condução, nunca saiu do papel. Visava a fomentar a produção e a comercialização de livros a R$ 10.
FONTE: 

I CONGRESSO NACIONAL DE EDUCAÇÃO PARA AS RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS: IDENTIDADES E ALTERNIDADES

SEMANA DA ÁFRICA NO PORTAL DA CHAPADA

ATENÇÃO: QUALQUER SEMELHANÇA, NÃO É MERA COINCIDÊNCIA II



Correio do Brasil, Bahia, sexta-feira, 6 de maio de 1904 
Mentiras Oficiais
Em se lendo a Mensagem do Sr. Dr. Severino Vieira, não se estando prevenido, há de se supor que as repartições públicas andam aqui da melhor forma, constituindo verdadeiros tipos ideias no gênero.
Entretanto, é justamente o contrário que se observa na re realidade, quando se percorre as salas desses velhos casarões, onde muitas vezes falta até o asseio exterior do edifício: no interior os trabalhos são, não raro, mal feitos e mal organizados.
Uma delas, então, existe que está de fato na mais completa das penúrias, quer se cogite do aposento que ocupa, quer se considere a ordem, a organização do trabalho que nela se executa: é o Arquivo Público.
Já uma feita nos ocupamos do deplorável estado em que se acha essa repartição, aliás de tamanha importância, e onde tudo falta, tudo, desde a remessa regular e metódica dos papeis das diversas Secretarias do Estado, até a penúria de estantes para acolherem esses papeis, até a ausência de telhado correto para protegê-los das chuvas; ora, nem uma palavra se encontra na mensagem referente a esse deplorável estado de miséria, como se nada valesse aquela repartição, jogada a um canto do edifício da Escola de Belas Artes, qual traste inútil; nada disso fez com que o governo julgasse dever chamar para o caso a atenção dos senhores legisladores da Bahia...
Demais, julgamos que tem sua excelência razão: para quem governa do modo por que sua excelência governou, mais convém que não exista arquivo de espécie alguma, pois assim morrerá em pouco tempo a memória do vândalo que assolou moralmente a sua própria pátria.     

ACERVOS HISTÓRICOS: ONTEM E HOJE


Para dar lugar ao Senado
O Arquivo Público foi mudado para uma velha casa à Rua do Tesouro
Como se muda o Arquivo Público para a sua nova casa
Em virtude da resolução do governo de instalar o Senado no edifício da Escola de Belas Artes, tornaram-se necessárias nesse edifício algumas modificações internas afim de que os nobres senadores possam ficar amplamente instalados.
Assim o compartimento em que funcionava, no edifício da Belas Artes o Arquivo Público teve que ser esvaziado; e, como não se encontrou lugar melhor para onde o Arquivo pudesse ser transferido, o governo mandou abrir um velho prédio que existe na Rua do tesouro, fronteiro a Assistência, e para lá o removeu.

O transporte foi feito por caminhões e os montões de folhas preciosas do Arquivo eram atirados das janelas do edifício da Escola, dentro do caminhão, sem nenhum cuidado, sem nenhum carinho. A remoção terminou ontem. 

29 DE MAÇO DE 1913

ANIVERSÁRIO DE SALVADOR - LIBERDADE

EXPOSIÇÃO 464 ANOS DE SALVADOR



A partir desta quarta-feira (27) os amantes da história da capital baiana poderão conferir os principais momentos dos 464 anos da cidade em uma exposição virtual organizada pela Biblioteca Virtual 2 de Julho em homenagem ao aniversário da Fundação de Salvador no dia 29/03. A exposição está disponível na pagina da Biblioteca.
A exposição apresenta o resultado da campanha Declare seu amor por Salvador” promovida pela Biblioteca Virtual 2 de Julho com o intuito de reunir colaborações de internautas que desejassem somar ao projeto. Ao todo foram organizadas nove galerias que abordam temas distintos, dentre eles, cultura, economia, literatura, festas populares e o contraste da cidade antiga com a atual. O material disponibilizado nas galerias foi coletado em diversas instituições como o Museu Tempostal, a Fundação Biblioteca Nacional e a Biblioteca Pública do Estado da Bahia. Saiba mais.

EVENTOS:

SALVADOR: 464 ANOS DE HISTÓRIA

Participe da XI Mostra de Pesquisa do APERS



A Mostra de Pesquisa do APERS é um evento anual que tem como objetivos centrais oportunizar espaço para a divulgação e discussão da recente produção intelectual das ciências sociais, humanas e da informação; incentivar a utilização de fontes primárias documentais arquivísticas em trabalhos de pesquisa; incentivar a realização de estudos a respeito de instituições arquivísticas, suas funções e ações; e divulgar locais de pesquisas e seus respectivos acervos documentais.

Em 2013 a Mostra chega a sua 11ª edição, demonstrando mais uma vez a centralidade que o APERS dá aos processos de difusão arquivística, a partir da compreensão de que é através destas ações que possibilitamos a efetivação do papel dos arquivos na sociedade, comunicando e ampliando com qualidade o acesso às informações aos usuários e público em geral.

Hoje lançamos o regulamento para participação na XI Mostra de Pesquisa, salientando que o período para submissão de trabalhos é de 05 de abril a 05 de maio de 2013. O evento é gratuito, tanto para apresentação de trabalhos quanto para ouvintes. Mais informações no regulamento, através do e-mail mostradepesquisa@sarh.rs.gov.br ou do fone (51)3288-9117. Participe e nos auxilie a divulgar!
FONTE: 

CONVERSAS PLUGADAS COM DEMIAN REIS


No Dia Internacional do Teatro e do Circo o Teatro Castro Alves realiza, às 20h, na Sala do Coro, o lançamento do livro “Caçadores de Risos – o maravilhoso mundo da palhaçaria”, do ator, palhaço, diretor e pesquisador Demian Reis, seguido de uma edição especial do projeto Conversas Plugadas com o autor. Durante o bate papo, Demian abordará temas ligados às artes cênicas, especialmente a carreira  dos palhaços e clowns. A entrada é gratuita.

Fruto da pesquisa de doutorado em Artes Cênicas no PPGAC/UFBA de Demian Reis, o livro traz como foco a arte do palhaço através de seu aspecto dramatúrgico, fomentando o diálogo, o debate e a reflexão sobre ela. Para Demian, o trabalho artístico dos palhaços envolve a prática de uma verdadeira usina de procedimentos da dramaturgia que variam conforme o artista, sua tradição, seu espetáculo, e seus efeitos produzem outros tantos sentidos a partir da recepção da plateia de cada apresentação. “Trata-se de assunto complexo, controverso e fascinante que nos obriga a enxergar, numa forma de arte que, quando bem executada, chega a nós, espectadores, como um acontecimento tão simples, banal, bobo e besta, que dificilmente acreditamos que sequer há trabalho por trás desse efeito cômico. Riso, ações cômicas, história do palhaço e, sobretudo, exemplos da palhaçaria no cenário atual são os principais tópicos discutidos nesse livro”, diz o autor.

Artista multifacetado - Nascido em Salvador, Demian Moreira Reis é bacharel em História pela Universidade Estadual de Campinas - UNICAMP e mestre e doutor em Artes Cênicas pelo Programa de Pós-Graduação em Artes Cênicas da UFBA. Foi professor visitante do Instituto de Humanidades, Artes e Ciências (IHAC) da UFBA e Bolsista de Pós-doutorado do CNPq. O artista foi também co-fundador do grupo Palhaços Para Sempre, em 2000. Criou, dirigiu e atuou em diversos espetáculos e esquetes de palhaçaria, entre os quais Ato de Clown, Tataravó, A Dama e o Palhaço e Lavando a Alma. Dirigiu vários Cabarés Artísticos e o espetáculo teatral Rosário. Também ministrou oficinas, cursos e vivências de palhaçaria em várias cidades da Bahia, entre as quais Salvador, Pintadas, Arraial da Ajuda, Ilhéus, Vitória da Conquista, Jequié, Feira de Santana, Euclides da Cunha, Santa Maria da Vitória, Jacobina, Conceição do Coité, Alagoinhas, Camaçari, Morro do Chapéu e Porto Seguro e em circos itinerantes.

Conversas Plugadas - O projeto do TCA promove o intercâmbio da sociedade, principalmente dos membros da classe artística, com profissionais de grande excelência no campo das artes. O projeto está alinhado com o foco da atual gestão do Teatro Castro Alves de incentivar atividades de formação e desenvolvimento técnico de profissionais do ambiente teatral e artístico do estado. Já passaram pelo projeto nomes como o do cenógrafo Gringo Cárdia, o produtor Billy Bond, Simone Iliescu e César Augusto, o diretor de teatro francês Philip Boulay, a diretora de arte Vera Hamburguer, a atriz Claudia Raia junto à produção do musical “De pernas pro ar”, Yamandu Costa e Hamilton de Hollanda, o autor Mia Couto, além de muitos outros.
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SERVIÇO:
O quê : “Conversas Plugadas” com Demian Reis
Lançamento do livro “Caçadores de Risos – o maravilhoso mundo da palhaçaria”.              
Quando: 27 de março, quarta, às 20 horas
ENTRADA FRANCA - Até a lotação do espaço

REABERTURA DO ARQUIVO MUNICIPAL DE CACHOEIRA


Funcionários estão concluindo os trabalhos para a reabertura da Sala de Pesquisa do Arquivo Público Municipal de Cachoeira, na próxima quarta-feira (13), aniversário da cidade. O espaço do prédio destinado exclusivamente para os pesquisadores, nos últimos anos, estava abrigando a sede para uma entidade não-governamental. Por conta de comprometimentos estruturais, o acesso do público alvo do arquivo (pesquisadores, professores, estudantes) foi restringido, já que as instalações disponíveis para as consultas à documentação do acervo eram inadequadas.

O Arquivo Público Municipal de Cachoeira foi criado no final da década de 80, planejado e implantado por professores da então Escola de Biblioteconomia e Comunicação da Universidade Federal da Bahia (UFBA), atual Instituto da Ciência da Informação. O Arquivo abriga um rico acervo documental desde o século XVII. O local recebe pesquisadores do mundo inteiro, interessados no processo de colonização do Brasil, e no período da escravidão. Exemplo do mestrando em História da UFBA, Clíssio Santos Santana (foto), que ainda está realizando os seus estudos, num local improvisado na área destinada ao acervo do Arquivo.

FONTE: 

REVISTA DIALÉTICA - VOLUME IV - ANO IV - FEVEREIRO 2013

Temos a satisfação de anunciar que acabamos de postar o número quatro da nossa Revista Dialética. Neste número contamos com as colaborações de Ubiratan Castro de Araúj(in memoriam), FlávioGonçalves, Ricardo Moreno, Ivana Kuhn, Agnaldo Matos, e Laila Brichta 

Dialética é uma revista que debate o pensamento social e científico avançado. Aqui você tem acesso a informações, resenhas e artigos organizados em sessões. O formato segue a lógica de um material que pode ser impresso, dando a quem preferir a oportunidade de ter em mãos ou na sua prateleira as nossas edições. Fazendo o nosso cadastro o leitor poderá interagir postando comentários, ou mesmo submetendo seu texto ou informação para avaliação de nossa equipe editorial. Verifique a nossa política de privacidade. ISSN: 2317 139

Leia! Participe! Divulgue!
Dialógica para que seja mesmo Dialética!

PROGRAMAÇÃO MUSEU EUGÊNIO TEIXEIRA LEAL


Programa Museu - Escola - PME

Descrição: No Programa Museu Escola, o Setor Educativo promove palestra sobre a História do Dinheiro, exibição de vídeo e visita mediada às salas de exposições do Museu Eugênio Teixeira Leal, com o objetivo de realizar programações extra-curriculares, permitindo ao estudante ampliar os conhecimentos técnicos e práticos sobre a História do Dinheiro e a História da Bahia.
Período: Durante todo o ano, de terça a sexta, das 9h às 18h.
Horário: ter a sex: 09h às 18h.
Acesso: gratuito, com agendamento prévio.
Local: Museu Eugênio Teixeira Leal
Contatos: 3321-8023 / museueugenioeducativo@gmail.com

A century after Harriet Tubman died, scholars try to separate fact from fiction


Linda Davidson/The Washington Post - Board member William Jarmon walks past portraits of Harriet Tubman in the Harriet Tubman Museum and Education Center in Cambridge, Md. on March 5. There are plans for a national historic trail and a state park honoring Tubman and the Underground Railroad. The groundbreaking takes place this weekend on the 100th anniversary of her death.

Go to Cambridge, which remains a sleepy town, and you’ll find the Harriet Tubman Museum and Educational Center, where a local art teacher has painted a colorful mural of Tubman, and photographs of her adorn the wall. Docents and volunteers tell stories of the black community’s connection to their heroine.

(Anonymous/Associated Press) - This photograph released by the Library of Congress and provided by Abrams Books shows Harriet Tubman in a photograph dating from 1860-75. 
Tubman was born into slavery, but escaped to Philadelphia in 1849, and provided valuable intelligence to Union forces during the Civil War.Her name was invoked here in the 1940s to raise money for an ambulance for use in the black part of town. Later, the black community began celebrating Harriet Tubman Day around Juneteenth on the grounds of Bazzel Church, an old wooden edifice where blacks worshipped during slavery.
With the beginning of construction on the visitors center at the new state park in Dorchester, excitement about Tubman is palpable.
“It all comes together in a way to celebrate the courage of a person who is an inspiration,” said Sen. Benjamin L. Cardin (D-Md.), who has also been a forceful backer of naming a national park after Tubman.
One place that transports visitors back a century and a half is the Bucktown Village Store, which is owned by Dorchester natives Susan and Jay Meredith, who operate the tourism business Blackwater Paddle and Pedal — renting out bicycles, canoes and the like. The Merediths are the fourth generation of their family to operate the general store, which they call the site of “the first known act of defiance in the life of Harriet Tubman.”
Step onto the wooden porch and through the heavy door and see shelves lined with artifacts: chamber pots, wooden duck decoys, old coffee cans. Beneath the glass are metal slave tags purchased on eBay and heavy shackles.
There is also a rusted metal weight, which Susan Meredith holds in her hand as she tells a story about the woman she calls “Minty.” “She was being leased out to farmers so she was working in the flax field. She said her hair looked like a bushel of flax. Master comes and says, ‘Minty go to the store.’ Like any woman, she said, ‘Ain’t no way I’m going with my hair looking like this.’ She put her Misses shawl on her head and headed to the store.”
It’s hard to believe an enslaved woman would drape her head with a shawl that belonged to her owner, but Meredith energetically continues her story.
Minty is in the store, and an overseer comes in chasing a enslaved boy who has walked off the field. Tubman refuses to help the overseer detain the boy. (On this point historians agree.) The overseer hurls the lead weight, “accidentally” hitting Tubman in the head, Meredith says with conviction, though there is some dispute about whether the incident was an accident.
“If this park revolves around inspiration and family and tradition, you’ll get everyone to come. But if you tell the things we already know about slavery, you’re not going to have many people,” Meredith says. “People aren’t going to come to be sad.”
But there is sadness in Bradford’s telling; she wrote that Tubman’s “master ... in an ungovernable fit of rage threw a heavy weight at the unoffending child, breaking in her skull, and causing a pressure upon her brain.”
Moving beyond happy children’s stories to look slavery in the face and conjure up the fearlessness Tubman must have possessed is — in fact — the draw, says Morgan Dixon, the co-founder of GirlTrek, a District-based organization that promotes fitness among black women.
The image of Tubman walking away from slavery undergirds GirlTrek’s “We are Harriet” walk on the anniversary of her death. More than 13,000 women, many walking alone, will participate.
The idea was born five years ago when Dixon got in her car and drove to the Eastern Shore looking for signs of Tubman.
Dixon ended up at the Bucktown store. She sat inside, thinking about Tubman getting knocked in the head and later walking through forests. It was there that Dixon began to think of Tubman as a physical being, not a storybook character — a woman who felt fear, pain and unyielding resolve.
“Harriet Tubman was a woman just like us,” Dixon says. “One woman who was radically connected to herself and to God takes it upon herself — with this core value of self reliance — to really walk in the direction of her best life.”
It is this Harriet that Dixon will have in mind as she walks Sunday. It is that Harriet Tubman, redrawn to reflect reality, that historians hope will resonate with people seeking to understand her legacy and the era in which she lived.

FONTE: 


ANA NERY, "MÃE DOS BRASILEIROS"


Cópia da Ata da Sessão extraordinária em 28 de setembro de 1873
Presidência do Senhor Capitão Silvestre Cardoso de Vasconcellos.
A uma hora da tarde, ocupando as suas cadeiras, à esquerda do senhor Presidente da Câmara Municipal, os senhores vereadores Major Fortunato de Freitas, Doutor Frederico Lisboa, Tenente Coronel Pinto Sanches, Doutor Alcamim e Coronel Comendador Araujo, e sendo oferecidas as cadeiras da direita aos Excelentíssimos Senhores Doutor Vice Presidente da Província, Doutor Chefe de Polícia, Excelentíssimo General Comandante Superior da Guarda Nacional, Coronéis Comandantes dos Corpos de Polícia, 14 a 18 de Linha, com assistência de outras principais autoridades civis, militares e eclesiásticas da Província, e algumas Excelentíssimas Senhoras das mais distintas da nossa sociedade, voluntárias da Pátria, diversos funcionários públicos, Comandantes e oficiais da Guarda Nacional, Polícia e de 1ª linha, Comissões do Monte Pio da Bahia, Libertadora Sete de Setembro, Monte Pio dos Artífices, Instituto Acadêmico, Fraternidade Sergipana, Grêmio Literário e numerozissimo concurso de povo de todas as classes; o Senhor Presidente da Câmara declarou aberta a sessão. Em seguida foi dada a palavra ao Senhor Vereador Doutor Frederico Lisboa que, em nome da municipalidade, proferiu o seguinte discurso: Doutor Frederico Lisboa: Minhas Senhoras, Meus Senhores.
A Câmara Municipal desta Leal e Valorosa Cidade do Salvador, julga pagar um tributo de merecida gratidão, colocando hoje em uma das salas de seu edifício o retrato da Excelentíssima Senhora D. Ana Justina Ferreira Nery.
É antes uma dívida de honra que ela vem resumir em nome do coração nacional, do que uma simples homenagem rendida á essa heroína que, á custa de seus gloriosos sacrifícios tanto soube engrandecer o nome brasileiro.
Na realidade, o assunto que hoje aqui nos reúne, não pode ser mais digno dos aplausos do povo e das louvações de Deus!..
Já era tempo, Senhores, de que a Província da Bahia a Pátria de tantos heróis, o glorioso berço dessa missionária do Cristo viesse no delírio do mais santo entusiasmo traduzir em fato a nobreza de seus sentimentos.
Pois bem, Senhores, este dever é hoje cumprido pelo povo representado por esta municipalidade, de quem me cabe a honra de ser o mais obscuro membro e o mais fraco interprete.
Senhores. A História dos heróis tem por cronologia seus feitos: são eles os marcos miliários de suas romagens gloriosas: e para escrevê-la pois, a história desses predestinados não carece traçar-se ponto por ponto os incidentes particulares da vida comum.
Basta enumerar-se-lhe os triunfos, biografa-los em seu perfil moral, sublime, civilizador. Eu refiro-me aos verdadeiros heróis, por que também os há falsos.
Ana Justina Ferreira Nery, natural da heroica cidade da Cachoeira, nasceu aos 12 dias do mês de dezembro de 1814.
Deixemo-la aí na vida modesta do lar doméstico até a época em que o grito da pátria ferida em sua honra veio fazê-la estremecer em seu retiro e chamá-la aos grandes destinos do seu apostolado. Foi em 1865, o gigante da América saíra de suas selvas, deixara o leito umbroso de suas cordilheiras ao rumor do pé inimigo que vinha lhe atirar a afronta: o brio nacional revoltara-se, o patriotismo borbulhara nos ânimos; o valor másculo dos filhos desta terra trasvasarão em lavas coruscantes quinhão varrer as hostes escravas do tirano do Chaco... Sim, vós o sabeis, não é preciso que eu desenrole aqui aos vossos olhos todas os princípios luminosos dessa aliada Americana.
O verbo do canhão gravou-a em eternas caracteres desde Uruguaiana até Humaitá, desde Assumpção até Aquidaban. 
Pois bem, Senhores, com as ondas do patriotismo jorrava também e caudalosamente o sangue brasileiro: a vida moral que conquistava o Império era comprada prodigamente por milhares de mortes... e era preciso que um outro valor se levantasse, que um novo heroísmo se erguesse em meio dos pelouros: era o valor da caridade, o heroísmo da virtude evangélica! Era preciso que a pátria fosse pensar com seus próprios dedos as feridas abertas em defesa de sua honra. Foi então que Ana Nery conheceu que lhe estava reservado um grande papel, que um grande e por ventura mais precioso canto lhe competia escrever com o coração nessa odisseia sublime.
E aos 11 dias do mês de agosto daquele mesmo ano, ofereceu-se como voluntária ao Presidente desta Província o benemérito Conselheiro Manoel Pinto de Souza Dantas, voluntária da caridade nessas pugnas por ventura mais truculentas da morte, que chamaram-se os hospitais de sangue!
Dentro em pouco os cômodos do lar, as delicias da família tinham-se lhe transformado nos hospitais sedentários da República da Paraguai. Aí, senhores, a alma varonil dessa mulher tocou ao ultimo grau da dedicação humana; o seu nome foi muitas vezes misturado com a prece fervorosa do Salvador, nos lamentos da agonia, na lagrima do desespero, e expirou muitas vezes também nos lábios trêmulos do naufrago da morte.
Quando a bala sibilava nos ares e vinha ferir aqueles que lutaram a sombra do Pavilhão nacional... ai deles se não encontrassem longe da pátria o amparo dos braços daquela mãe terna e carinhosa!
E não era só o soldado brasileiro. Para Ana Nery a dor não tinha pátria, o sofrimento não tinha cor natal, digo, não tinha milícia, a caridade não tinha cor natal, todos, amigos aliados, indiferentes ou inimigos, todos eram infelizes, todos eram irmãos, todos tinham direito a sua virtude.
E ali no estertor da agonia, quando o ultimo pensamento é para a pátria, o ultimo olhar é para o crucificado, o ultimo osculo de vida era para a mão abençoada que cerrava as pálpebras no doloroso transe.
Dize-me vós testemunhas augustas, vós que lá nos campos da batalha tantas vezes sonhastes com a alegria através dos torvos novelos do fumo das refregas, vós relíquias veneradas, que ainda nos pareceis falar com o vosso aspecto e vossas cicatrizes daqueles dias de gloria, dizei-me vós recordações animadas daqueles tempos, restos ainda brilhantes daquele heroísmo sem par! Dizei-nos vós mesmos, contai-nos pela boca de vossas próprias cicatrizes quão sublime e carinhosa, quão magnânima e quase divina a dedicação daquela mulher!
Perguntai, dizia um distinto jornalista a qualquer invalido da pátria, ou qualquer prisioneiro paraguaio que foi Dona Ana Nery nos cinco anos em que acompanhou o Exército aliado e eles vos responderão com respeito: Foi a imagem viva da mais extremada dedicação, foi a encarnação da caridade.                                             
 E releva notar que durante todo o tempo que ali permaneceu jamais recebeu a mais pequeníssima retribuição pecuniária.
Ana Nery serviu nas enfermarias do Salto, de Corrientes, de Humaitá e de Assumpção, onde criou também na casa de sua residência uma enfermaria as suas expensas e cuidados...
E não foram somente estes os serviços que ela prestou: para prova de muitos outros de que reza a crônica oficial, vede: em Corrientes mereceu dos habitantes o diploma de sócia honorária da sociedade filantrópica de socorros pela humanidade e desvelos com que tratou os enfermos de cólera morbus em 1868.
Em Assumpção também lhe foi concedido o diploma de sócia instaladora da sociedade de Beneficência Portuguesa.
E quando teve de retirar-se como se não fossem bastante ainda os seus sacrifícios, ela trouxe com sigo seis órfãos brasileiros, cujos pais faleceram em defesa da causa comum.
Esse fato, foi já no fim de sua tarefa. Ela que partira como voluntária, só regressou a sua pátria cinco anos depois, quando já não eram mais ali precisos sua dedicação e patriotismo. Voltando aos lares pátrios, depois de tão gloriosa missão, concedeu-lhe o governo imperial a pensão de 1:200#000 anuais e a medalha humanitária de 2ª classe.
A recompensa do povo, senhores, é esta: é este sinal eloquentissimo do culto votado as grandes virtudes; é esse retrato modesto mandado tirar pelas dignas baianas residentes na Côrte e a esta edilidade confiado para em nome da gratidão pública ser aqui colocado. E isto basta-lhe.
Esta solenidade de hoje já teve o seu prelúdio: bem podeis evoca-lo. Ana Nery recolhendo-se a sua Província natal, ainda nos deveis lembrar, foi recebida no meio das mais esplendidas ovações.
A velhice, a mocidade, a infância, a riqueza, a mediana, a própria miséria, finalmente, todas as colaterais da gerarchia social, confundidas em um jubiloso turbilhão, foram entornar-se a seus pés como uma vaga imensa. Era a vaga da gratidão nacional!
Então através do marulhar daquelas cabeças, do ferver daqueles corações, do convulsionar daquelas bocas, ouvia-se este eco altissonante: é a heroína da pátria, o anjo da caridade, a mãe dos brasileiros!
Ana Nery! Abençoado seja o teu nome! Essa nuvem de prezar que te alquebra a fisionomia augusta é ainda o vestígio da lagrima da pátria que chora pelos seus olhos! É o reflexo da agonia daqueles desgraçados sublimes que exalaram o ultimo suspiro nos teus braços de mãe.
Ana Nery! Abençoada seja o teu nome!
A gratidão pública beija-te os pés; o capitólio escancara-te as portas, e Deus aí te espera para coroar-te a fronte!
Concluída esta alocução, fizeram-se ouvir os sons harmoniosos de uma das músicas militares, que foram prestados por sua Excelência o Senhor Doutor Vice Presidente da Província.
Sendo dada a palavra, por sua vez, a cada um dos oradores das comissões das sociedades já referidas, recitaram eles discursos análogos ao fim solene da reunião, acompanhado-os nessa demonstração o jovem poeta e dramaturgo João de Britto, que também proferiu um discurso, e finalmente Doutor Izidoro Antonio Nery, agradecendo em nome daquela que lhe deu o ser, as provas de consideração, estima e reconhecimento, que acabavam de ser-lhe prestados.
A proporção que era concluído cada discurso, tocava a música militar e não havendo ninguém mais se inscrito com a palavra, o senhor Presidente da Câmara encerrou a Sessão, convidando a todos os circunstantes para  a cerimônia da colocação do retrato da heroína da pátria e mãe dos brasileiros, a distinta e caritativa baiana a Excelentíssima Senhora Dona Ana Justina Ferreira Nery.
E para constar, lavrei a presente ata.
Eu, Manoel Rodrigues Valença Júnior, Secretário Interino.
Silvestre Cardoso de Vasconcellos
Doutor Cícero Emiliano de Alcamim
Fortunato A. de Freitas
Doutor Frederico Augusto da Silva Lisboa
João Batista Pinto Sanches
Justiniano José de Araujo
É preciso corrigir os erros
Vide correio da Bahia (coleção existente no Instituto Histórico).
Marquei o lugar, em presença do Isaias. ([dez] de setembro a outubro de 1873 – Expediente Municipal (Atas).
O final do discurso é o seguinte: O Capitão abre-te de par em par suas majestosas portas e Deus te espera um dia para coroar-te a fronte!
Fonte: 
Arquivo Público do Estado da Bahia 
Seção: Colonial/Provincial 
Série: Governo - Câmara Municipal 
Maço: 1409 - 1870-1873    
  Seu Batismo 
1815
Aos vinte cinco dias do mês de março de [mil oitocentos e quinze] na Matriz desta Vila de Nossa Senhora do Rosário da [Cachoeira] o Vigário Encomendado Custódio Luis dos Santos, batizou e pôs os santos olhos; digo o Coadjutor Carlos Melquiades do Nascimento batizou e pôs os santos olhos a Anna, nascida a quatro meses, filha legítima de José Ferreira de Jesus e Luiza Maria das Virgens; foram padrinhos o Capitão Jerônimo José Albernaz e Dona Maria Joaquina do Nascimento, sua mulher; do que mandei fazer este assento e assinei. O Vigário Encomendado Custódio Luis dos Santos Varella.  
FONTE: FamilySearch